quarta-feira, 29 de outubro de 2008

10º PASSEIO PEDESTRE DOS MONTANHEIROS - "PASSAGEM DAS BESTAS - 2008"

Relheiras carregadas de história

O último passeio do ano, levou os pedestrianistas até à “Passagem das Bestas”, um local com mais de trezentos anos de história, devido aos carregamentos de lenha da Caldeira Guilherme Moniz, para abastecer Angra

Daniel Costa

O décimo passeio e último do corrente ano, iniciou-se no caminho entre a Furna da Água e do Cabrito, no antigo caminho denominado “Passagem das Bestas”, onde estão bem vincadas as maiores Relheiras conhecidas nos Açores, algumas das quais ultrapassam os 30 cm de profundidade, consequência da extracção continuada de lenha dessa zona ao longo de mais de trezentos anos, em virtude da passagem de carros de bois que, diariamente faziam o trajecto entre a Caldeira do Guilherme Moniz (chamada antes Conde da Praia) e Angra, uma vasta área aplanada pela lava, resultante dos escoamento do Vulcão que deu origem ao Algar do Carvão, que nivelou esta vasta área, mais tarde coberta de matos baixos e rasteiros de onde se extraiam as imprescindíveis lenhas para abastecer a cidade de Angra do Heroísmo, e seus arredores.
A lenha c
onsumida para os mais variados fins em Angra, vinha toda praticamente da Caldeira Guilherme Moniz. Para se ter uma ideia de tal importância, ao longo dos muitos anos, no último cartel do século XVlll, o Pe. Manuel Luís Maldonado em relação à vida económica de Angra em finais de mil e seiscentos, escrevia no “Fénix Angrense” que os 2.162 fogos, gastando uma carga de lenha por semana, e multiplicando esse numero por 52 semanas, “perfazem 112.424 cargas e vendendo-se cada carga por oitenta reis, preço comum, dá o produto de 8.993$920 reis”.
A título
de curiosidade, é de referir que em pleno século 20, mais propriamente na década de quarenta, aquando da II Guerra Mundial, em virtude do bloqueio imposto no Atlântico pelos submarinos alemães, esta actividade foi novamente retomada.
Serra do Morião e Caldeira Guilherme Moniz

O Maciço da Serra do Morião e da Caldeira do Guilherme Moniz trata-se de “um grande aparelho vulcânico, cuja cratera central corresponde à Caldeira do Guilherme Moniz”, os bordos Oeste e Sul da caldeira são constituídos pela Serra do Morião, cujo ponto mais alto, o Rosto, atinge 632 metros de altitude. Os bordos Norte e Este da Caldeira foram destruídos pelas erupções mais recentes dos aparelhos do complexo Vulcânico do Pico Alto (Terra Brava, Pico do Carvão, etc.).

Percurso

Após a apresentação do passeio por parte dos guias Paulos, o Barcelos e o Mendonça, que para além de tecerem os tópicos do mesmo, não se esqueceram dos habituais apontamentos históricos, sobre a zona a visitar, aspecto deveras importante nestas caminhadas para dar a conhecer e ajudar a perceber, a nossa identidade como ilhéus e compreender a nossa história. Deu-se então início à caminhada que, coincidiu praticamente pela zona da “Passagem das Bestas” onde era bem visível os sulcos feitos pelos carros de bois ao logo dos anos, as famosas “Relheiras”. Deixado para trás esta zona, os pedestrianistas chegaram ao Juncalinho num pasto, dando início à subida do mesmo em coluna, até aos Direitos do Juncalinho, situados no seu alto, de onde se podia observar, o Pico Careca bem como a Serra do Cume. Prosseguindo, o grupo rapidamente alcança a zona dos Terreirinhos, onde se consegue ver a vasta área dos cinco Picos, detendo-se num pasto para reagrupar e tirar a foto de família, tendo à frente a imensidão da Caldeira Guilherme Moniz, e como dia estava favorável, era possível enxergar com grande nitidez, o Maciço da Serra de Santa Bárbara.
Posteriormente, e já no caminho d
e regresso às viaturas, os caminhantes desceram o Pico Espigão em direcção novamente ao caminho entre as furnas da Água e do Cabrito, onde se encontravam imobilizadas as viaturas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

9º Passeio pedestre dos Montanheiros – Morro Assombrado (2008)

Assombro espectacular

Da rica e intacta vegetação endémica selvagem, passando por labirintos de grandes fendas, que rasgam a terra.

Daniel Costa

O nono passeio pedestre e penúltimo da temporada, teve como destino o “Morro Assombrado” considerado por muitos o ex-líbris dos passeios pedestres, muitíssimo aguardado pelos habituais participantes que logo após a primeira incursão, ficaram apaixonados por tamanha beleza fora do comum, de contornos únicos nestas paragens, sendo por isso com grande emotividade que lá voltam, e com grande expectativa por parte dos caloiros, em função dos relatos abonatórios dos mais veteranos. Todavia, a ida ao tão afamado Morro, chegou a estar ameaçada, em função das condições climatéricas adversas, que se registavam no ponto de encontro decisivo, localizado no Pico da Bagacina. Com efeito, o céu cinzento a par de alguma neblina e de algumas quedas de água, a espaços mais violenta intercalada com algumas pausas que se registava no local, levou os promotores da iniciativa, a optar por um passeio alternativo (Baías da Agualva), salvaguardando no entanto a primeira hipótese, caso as condições climatéricas o possibilitassem, a quando da sua aproximação pela estrada que vai dar aos Biscoitos. Em plena descida e voltando o olhar para a direita, logo se constatou pelo céu azul que deixava penetrar o astro Sol, iluminando toda a área do Biscoito Rachado, que estavam reunidas as condições para finalmente e felizmente, o grupo aceder ao tão almejado Morro. No briefing que antecede as caminhadas, para além das habituais recomendações, os responsáveis chamaram a atenção para a espectacularidade do passeio, mas alertaram para a dificuldade do mesmo, colocando particular ênfase, na questão da segurança, alertando para o facto dos amantes da fotografia, as tirarem imóveis, e não em andamento, em virtude do piso irregular, onde as fendas em grande parte do percurso abundam. Posto isto, os participantes passaram uma última vistoria ao seu equipamento, acomodaram as mochilas e ala arriba por um pasto verdíssimo, até se deter no seu cimo, para posteriormente entrar no Trilho das Fendas o início do “Morro Assombrado”. O “Morro Assombrado”, situa-se na Serra do Labaçal, na freguesia das Quatro Ribeiras, local também conhecido por Serra com o nome da referida freguesia, em pleno Biscoito Rachado. Esta é uma zona conhecida pelo pé humano mas não pela sua mão, em virtude da irregularidade do seu traçado. Em 1843 o padre Jerónimo Emiliano de Andrade descrevia os matos da Terceira como (...) Em muitos lugares da Ilha, os matos são rotos e cheios de algares profundíssimos, cujas bocas muitas vezes estão escondidas pelos arbustos, que os cruzam e cobrem de verdura. É necessário que os homens que os pretendem penetrar os vão sondando atentamente para não serem precipitados em abismos...). Segundo José Maria, exímio explorador dos “Montanheiros” com largos anos de incursões e investigações aos matos da Terceira, (...) Os Algares, por ele citados de “profundíssimos”, não passam de grandes fendas, que rasgam a terra, algumas com mais de cem metros de comprimentos e que oscilam entre os cinco e trinta metros de altura, muitas delas ultrapassando os dois metros de largura, o que por vezes provoca um confuso labirinto de fendas, como é o caso do selvagem mas espectacular “Morro Assombrado”(...). Por este facto, esta área embora conhecida, não era utilizada pelo homem, na criação de cabras e retirada de madeira, o que lhe possibilita, encontrar-se no seu mais puro estado selvagem, onde se pode encontrar uma rica vegetação Laurissilva. O nome “Morro Assombrado” foi dado pelosMontanheiros”, pois a quando das suas expedições a este lugar, e como as mesmas se realizavam mais no Inverno, este local pelo seu relevo medonho e confuso, à densa floresta, aos barbudos nevoeiros e aos ventos que sopravam forte por cima dos seus labirintos, criava uma atmosfera em que a designação assombrado assentava que nem uma luva, daí ter ficado baptizado de “Morro Assombrado”. A primeira parte do deslocamento, desenrolou-se por entre vegetação de média altura, maioritariamente composta por cedro, contornando o bordo do Biscoito da Ferraria de donde se abriam algumas janelas onde era possível vislumbrar toda esta bela e rica área, até à imponente Rocha do Chambre, com a Serra de Santa Bárbara ao fundo. Seguidamente, a coluna encetou uma descida a pique, com algum grau de dificuldade, onde todos os cuidados eram poucos, para evitar alguma situação desagradável. Uma vez concluída a descida, entrou-se num local de vegetação endémica, alta e cerrada, prosseguindo a marcha por entre diversas fendas de variadas comprimentos e larguras, até ao Obelisco, uma rocha isolada em forma de aguilhão na entrada do Morro, que antecedeu a entrada no labirinto, onde se situa a passagem do Morro de baixo para o Morro de cima, labirinto esse que é percorrido em grande parte entre fendas altas, com a rocha basáltica revestida de musgos de várias tonalidades, de uma beleza rara. Prosseguindo, o grupo fez a aproximação às Torres de Pedra, duas pedras que se erguem paralelamente por entre a vegetação, outro dos pontos altos do passeio, que antecedeu a passagem por entre a Rocha Fria, também conhecida por Arca Frigorifica, nome dado em função do esfriamento da zona, continuando depois pela grota que se situa entre a Serra do Labaçal e o Biscoito da Ferraria, um local onde a Roca-de-Velha emerge teimosamente por entre a vegetação endémica.Caminhava-se a passos largos para o final do passeio, antes ainda a passagem pela Cova das Pardelhas, ou Cova das Criptomérias, antes da subida final, que levou os caminhantes até ao pasto, que fez a ligação à canada em direcção às viaturas.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

8º Passeio Pedestre dos Montanheiros – Mistérios Negros (2008)

Por trilhos de lavas rugosas

Da imponência do Cedro-do-Mato, que impressiona pela sua espessura, passando pelas ricas e vistosas Turfeiras, até aos Domas de lavas viscosas, densas e rugosas, resultantes da primeira erupção histórica de 1761

Daniel Costa

Com a chegada do mês de Setembro, chega igualmente o Outono, período em que as condições climatéricas se tornam mais instáveis, sinal que entramos na recta final de mais um ano, e consequentemente dos passeios pedestres organizado pela Associação Espeleológica “Os Montanheiros”.
Assim, após a realização de mais esta caminhada, a 8ª do corrente ano, ficam apenas a faltar duas para o términos da campanha 2008, ficando-se na expectativa, a aguardar aquilo que o novo ano trará no que diz respeito a esta matéria.
Este octo passeio, poderá dividir-se em dois digamos assim, uma vez que a primeira parte do mesmo foi realizado numa zona selvagem, de vegetação endémica, onde o Cedro
-do-Mato impressionava pela sua imponência e espessura, numa área admirável, uma das mais ricas da Ilha e espectaculares no que ao Cedro-do-Mato diz respeito. No chão e em toda a extensão do percurso, estendia-se aos nossos pés, uma autentica passadeira de Turfeira riquíssima, que se propagava aos galhos dos Cedros, cobertos também de musgos e pequenos fetos, que transmitiu uma tranquilidade e sentido de liberdade único, que levou os participantes a cruzar a área dos Mistérios Negros, local anteriormente chamado de Vale Fundo, que com a primeira erupção histórica de 1761, desapareceu, dando lugar aos domas de lavas viscosas, densas e rugosas, rochas pouco consistentes, empurradas de baixo para cima, que aí se formaram.

As erupções

Rezam as crónicas da altura, que a 14 de Abril de 1761, a terra começou a tremer com insistência, algumas vezes de forma violenta, era o sinal do que depois viria a suceder, uma primeira erupção vulcânica, ocorrida no dia 17 que daria origem aos seis domas que constituem os Mistérios Negros, ocorrida entre os Picos Gordos e a Serra de Santa Bárbara.

Quatro dias depois, nova erupção sucedeu de contornos mais fortes, dando então origem ao Pico do Fogo, Pico Vermelho e Pico das Caldeirinhas, desenvolvendo-se também segundo os relatos da época, em três correntes de lava, a primeira rumo a oriente, com paragem num local designado de Chama, a segunda dirigiu-se para Ocidente, lançando uma propagação para Norte até ao Tamujal, e a terceira a superior, deslocou-se para Norte, dividindo-se posteriormente em duas, uma das quais estagnou no Vimeiro e a outra foi dar ao Juncalinho, chegando mesmo a invadir os Biscoitos e a destruir algumas casas.

O negro dos Domas e o verde da vegetação

Depois de se transpor esta zona rochosa onde todo o cuidado foi pouco para se a ultrapassar, obrigando a coluna a uma efectuar uma marcha lenta, no sentido de transpor os obstáculos sem danos, uma nova porta se abriu dando entrada a uma zona de vegetação endémica rica em Cedro-do-Mato, com alguns azevinhos à mistura, como muita Turfeira à mistura, o que dava uma sensação única á medida que se avançava, e que levou os participantes a uma área idêntica a um desfiladeiro, passando por entre dois Domas.
Caminhava-se a passos
largos para o final desta parte selvagem do passeio, quando se entrou num local aberto, ladeada por muitos fetos já secos situação própria para a altura do ano, de onde era possível contemplar o Pico Gaspar, também conhecido por Cesto Redondo, ou Pico das Cracas, sobretudo pelos pescadores de São Mateus, em virtude de ser um ponto de referência visto do mar, antes de se entrar numa zona de altas Criptomérias que no seu final, fazia a ligação com o passeio turístico.
Já em pleno percurso turístico devidamente sinalizado, a progressão deu-se por uma Canada espaçosa, um percurso sempre em sentido ascendente de inclinação acentuada, até ao alto do Pico da Cancela, de onde era possível desfrutar de uma paisagem magnífica, oportunidade de imediato aproveitada pelos participantes amantes da fotografia, colocarem o dedo no
gatilho.

Após esta pequena pausa, entrou-se por entre Criptomérias, que levou os caminhantes, até um
marco onde se procedeu à pausa para o almoço, acontecimento por razões óbvias sempre bem-vindo.
Retomada a marcha, a mesma desenrolou-se novamente por entre Criptomérias, entrando-se posteri
ormente numa zona mais aberta que levou os amantes da natureza à Canada dos Mistérios Negros, que após percorridos alguns metros e virando à direita, penetrou-se novamente numa área de vegetação endémica fechada, aparecendo a espaços algumas clareiras nos bordos do negro das pedras dos Mistérios Negros, entrando-se posteriormente numa zona mista, que fazia numa primeira fase, a fronteira entre a vegetação endémica e a vegetação exótica, que antecedeu a chegada ao pasto de onde se deu o ponto de partida, para mais este evento de cariz ambiental e histórico.