quarta-feira, 9 de julho de 2008

6º PASSEIO PEDESTRE DOS MONTANHEIROS PICO AGUDO / PICO ALTO (2008)

Panorâmica única

Este passeio, ficou marcado pela abrangência e excepcional paisagem que estes picos oferecem, mas sobretudo pela informação, que apanhou todos de surpresa, da suspensão dos passeios pedestres dos Montanheiros já para o novo ano, em virtude da publicação para breve do diploma Regional, que cria o parque natural da Ilha Terceira, que deverá condicionar este e outros tipos de actividades lúdicas no interior das zonas classificadas, mas que se espera, não contribua para o fim destas iniciativas em definitivo.

O sexto passeio pedestre organizado pelos Montanheiros, em parceria com a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, levou desta feita os fieis amantes destas coisas da natureza, ao Pico Agudo, situado em plena Terra Brava, e ao Pico Alto.
Este era aliás o sétimo passeio agendado no calendário do ano anterior, mas que devido ás condições climatéricas adversas, acabou por ser substituído por um alternativo, (Caldeira das Lajes) embora os caminhantes ainda se tenham aventurado nele alguns metros, antes de efectuar inversão de marcha.

Pico Agudo

Situado no lado poente do caminho das Lagoinhas, em plena Terra Brava, o Pico Agudo com os seus 789m de altitude, embora longe de ser o mais alto da ilha, é aquele que devido ao seu posicionamento geográfico, oferece uma maior e melhor panorâmica da ilha, superiorizando-se mesmo neste contexto, á maior elevação da Terceira, a Serra de Santa Bárbara.
O Pico Agudo, emerge na vasta área da Terra Brava, numa das zonas mais primitivas da ilha, de difícil orientação, apresentando um relevo bravio, anárquico, que devido á irregularidade do seu terreno, ao mato cerrado e aos densos nevoeiros, tem conseguido escapar ás beliscaduras humanas.
A Terra Brava, é um local de vegetação endémica riquíssima, que brota do terreno vegetal que a sustenta, podendo lá se encontrar, entre outros, Cedro-do Mato, Louro, Urze, Tamujo, Sanguinho, Pau Branco, Azevinho, Alfacinhas e outras herbáceas endémicas, vários musgos de diferentes tamanhos e tonalidades, bem como diversos fetos e alguns exemplares de uma trepadeira rara, denominada smilax canariensis.
A Terra Brava, é igualmente
um grande reservatório de água, devido ao acumular de água nas suas abundantes turfeiras, e foi uma zona também utilizada pelos cabreiros, que devido á distância e dificuldades do terreno, pernoitavam no mato, dormindo em abrigos construídos rudemente com as próprias mãos.
Para além disso, era usual em pequ
enas clareiras bem visíveis no trajecto que levou a coluna até ao Pico Agudo, encontrar-se covas de carvão, onde se queimava a madeira até se transformar em carvão, e que posteriormente era abafada, e transportada para ser usada para os mais diversos fins: nas tendas dos ferreiros, nos velhos ferros de engomar, etc.

Pico Alto

O Pico Alto situado na maior freguesia da ilha Terceira a Agualva, é um dos quatro Picos que se situam acima dos 800m de altitude, ocupando curiosamente com os seus 808m, a quarta posição neste ranking, atrás do Pico do Aguilhão, (o mais alto da ilha) Pico Redondo e Pico Rachado, respectivamente.
O Pico Alto, é o ponto mais alt
o do maciço a que deu o nome, um dos quatro aparelhos vulcânicos principais que formam a ilha. O Maciço do Pico Alto, corresponde a um grande complexo vulcânico sobretudo traquítico, com vários pontos eruptivos, que provavelmente estará apoiado numa antiga caldeira, que terá sido aniquilada e preenchida por lavas de erupções mais recentes.
Os centros eruptivos mais visíveis, foram o Pico Alto, Pico das Pardelhas e Biscoito Rachado, cujos derrames correram no interior formando o Biscoito da Ferraria e até à costa norte da ilha.

O adeus ao Pico Agudo e Pico Alto?

Aquele que eventualmente terá sido o último passeio, pelo menos nestes moldes, ao Pico Agudo e Pico Alto, conforme foi informado pelo guia e presidente da Associação Os Montanheiros, Paulo Barcelos, apanhou todos de surpresa, causando grande estupefacção geral, acabando por ser mesmo a grande nota do dia.
Segundo o líder dos Montanheiros, a
pós várias décadas a organizar expedições ao interior da ilha, em locais desconhecidos do grande público, mais inacessíveis, mas também mais sensíveis, será cumprida a calendarização prevista para este ano de acordo com o planeado. No entanto, em consequência do novo diploma Regional que cria o Parque Natural da Ilha Terceira, deverão ser levantadas restrições ao acesso a determinadas áreas reclassificadas ao abrigo da nova legislação. Em face disso, a fim de evitar qualquer tipo de atrito ou atropelos às competências da Comissão de Gestão do futuro Parque, decidiu a associação desde já tornar público que irá suspender a organização dos tradicionais passeios, até que possa ser acordado forma de os retomar, num formato aceite por todos.
Paulo Barcelos esclareceu que, felizmente para efeitos de Conservação da Natureza, a ilha Terceira possui das maiores e melhores florestas de vegetação natural dos Açores, visitada durante muitos anos pelos Montanheiros e alguns privilegiados que os acompanhavam nos seus passeios, mas que agora vamos entrar num nova etapa, para o qual a associação estará sempre disponível a colaborar com as entidades competentes.
Numa altura em que ainda estão a ser revistas as últimas alterações à proposta inicial do diploma, desconhece-se ainda o que irá ser impo
sto no futuro. Espera-se e deseja-se no entanto, que embora com novas regulamentações, a Comissão de Gestão do novo parque a criar, seja sensível á necessidade de manter Percursos Pedestres no interior dessas áreas, para fins recreativos, científicos e para a própria gestão do parque.

O deslocamento

O início da caminhada, deu-se na zona da Lagoa Seca, uma primeira fase de subida pouco acentuada, primeiramente por um local de vegetação mais rasteira, mas que rapidamente deu lugar a uma vegetação endémica típica da Terra Brava mais fechada, passando-se aqui-e-ali por pequenas clareiras, onde como já foi mencionado, se procedia à queima de madeira para posteriormente ser transformada em carvão.
Andando às voltas, porque a irregularidade do terreno assim o determinava, os caminhantes rapidamente encetaram a subida final ao Pico Agudo, agora mais acentuada e exigente, alcançando por fim o seu to
po, onde a fabulosa visibilidade, ultrapassava largamente as melhores expectativas.
De facto, é impressio
nante a visão que nos é oferecida, desde a majestosa Serra de Santa Bárbara, desta feita mais envergonhada devido ás nuvens que a tapavam, toda a vasta área do Biscoito da Ferraria, o Morro Assombrado, Pico do Junco, Biscoito Rachado, Pico da Salsa, Serra do Cume e Morião, entre outros, uma infindável panorâmica, de facto única.
Sob a ameaça de um chuvisco miudinho, que se lembrou de aparecer, procedeu-se então á descida do Pico Agudo, em direcção ao Pico Alto, o segundo objectivo do dia.
Pelo meio uma paragem, para o almoço numa clareira denominada de Buraco,
antes da subida ao marco do Pico Alto, de onde a paisagem a desfrutar é igualmente digna de registo.
Tirada a foto de grupo, encetou-se o caminho de regresso, descendo em direcção ao Carreiro, o que resta do antigo Caminho do João Coelho, aberto a mando do próprio, um indivíduo abastado da freguesia da Agualva, que o mandou abrir para fazer a ligação entre esta freguesia e o Cabrito, com paragem final junto das viaturas.
À semelhança dos anos anteriores, os passeios pedestres sofrem uma pequena interrupção, voltando a 7 de Setembro.