sexta-feira, 16 de maio de 2008

3º PASSEIO PEDESTRE DOS MONTANHEIROS FAJÃ DA SERRETA (2008)






Da imponente ponta do Queimado até á Fajã





Contornar a ponta do Queimado, visualizando do alto da sua rocha basáltica talhada a prumo, as suas baias, por entre antigas curraletas de vinha, até á Fajã, onde outrora, existia a famosa fonte da água azeda







Com o percurso inicialmente traçado (Serra de Sta. Bárbara) por razões óbvias fora do baralho, a opção recaiu pela Fajã da Serreta, em virtude de ser o local em principio com melhores condições climatéricas.
A caravana seguiu rumo ao Pico da Bagacina, onde apesar das condições adversas, com a precipitação a cair a toque do vento, que soprava de sueste, era possível vislumbrar a muito custo por entre o cerrado nevoeiro, barbudo, como lhe chamam as gentes do mato, algumas viaturas, que indiferentes à intempérie, aguardavam pacientemente, pela caravana que havia partido de Angra.

Fazendo-se à estrada, a caravana dirigiu-se até á Mata da Serreta onde se constatou que o tempo realmente naquela zona à excepção do vento forte, reunia as condições necessárias para mais esta jornada de cariz ambiental.

A Serreta, é a freguesia da Ilha Terceira, que se situa a maior altitude do nível do mar, e devido á pequena Serra que lhe fica sobranceira, é uma das mais húmidas, onde
se acumulam espessos nevoeiros.

A Lenda

A origem do culto do povo a Nossa Senhora dos Milagres, está ligado a uma lenda, que refere que em finais do século XVI, um velho padre descontente com procedimentos da sociedade humana, ali se isolou, junto da rocha, para dirigir as suas preces a Deus.
Ali ergueu com as próprias mãos uma pequena capelinha, colocando aí a imagem da virgem que o acompanhava, em agradecimento “do milagre de o defender do perigo”.
Em pouco tempo, ficaram conhecidas em toda a ilha, as virtudes do padre, começando então a afluir o povo, não só por razões religiosas, como também por admirarem o dom do referido sacerdote.
Dep
ois da sua morte, outra se ergueu em local diferente, mas por não reunir as condições mínimas foi encerrada, e a imagem foi deslocada para a igreja de São Jorge das Doze Ribeiras, onde aí permaneceu durante anos.
Em 1762, Em virtude da posição portuguesa, no conflito que opunha a coligação francesa e espanhola contra a Inglaterra, foi ordenada a defesa da costa da Ilha, os nomeados para tal tarefa, ao chegarem às Doze Ribeiras e como religiosos que eram, perante a imagem de Nossa Senhora dos Milagres, efectuaram um voto, designado “voto dos escravos”, no sentido de se tornarem seus escravos e efectuarem uma festa anual, caso a ilha não fosse atacada pelo inimigo. Como assim sucedeu, foi cumprida a promessa da “Irmandade dos Escravos”.
A c
aminhada, iniciou-se junto à mata da Serreta, de um forma descendente, por entre trilhos apertados e escorregadios, bem como canadas mais espaçosas, onde a vegetação á base do eucalipto tão abundante naquela zona, deixava transparecer a sua fragrância inconfundível.
Terminado esta primeira fase do percurso mais selectivo, o grupo deparou-se com algumas descidas, com um grau de inclinação elevado, que aliado ás muitas folhas e galhos apodrecidos no solo, dispensavam cuidados redobrados, que no entanto não foram os suficientes para evitar algumas quedas, mas sem consequências.
Era o início do contorno da Ponta do Queimado, onde o deslocamento se fez por todo o bordo deste derrame, proporcionado uma visão ímpar, primeiro da baía grande da Serreta, e depois da pequena, ressaltado á vista a imponente rocha no negro bas
alto, polida aprumadamente, devido à erosão do mar revolto, que costuma agitar aquela zona durante séculos.

A Fajã

Toda esta área agreste, em tempos eram curraletas de vinha, onde também existiam figueiras, sendo possível ainda visualizar aqui e ali alguns ramos, que espreitam timidamente, por entre a vegetação que as amordaça. Até que se chegou finalmente junto da Fajã da Serreta.
Esta Fajã, que vai da mata até junto ao mar, inicialmente era conhecida por Fajã de Duarte Gomes Serrão, por ser inteiramente sua, e onde existiam para além de vária
s culturas, alguns pomares e vinha.
Situada na parte inferior da rocha, que limita a freguesia da Serreta, foi descoberta oficialm
ente em 1855, uma fonte de água, denominada fonte da água azeda, que todavia, segundo consta a mesma já era do conhecimento dos habitantes da freguesia.
Haviam alguns moradores locais, que ganhavam alguns cobres que algumas pessoas da cidade lhes pagavam, para recolher o precioso líquido.
Segundo o relato do francês F. Fouquêt que em 1867 veio à Terceira estudar uma erupção ocorrida no mar naquela zona, e que terá estudado a nascente, era possível penetrar na fenda até cerca de seis metros, onde por vezes haveria uma conce
ntração elevada de ácido carbónico que se tornava perigoso, e que segundo Fouquêt, seis anos antes, tinham falecido asfixiados três habitantes locais, após se terem aventurado na respectiva fenda.
Na recta final, passagem pela Ribeira da Lapa, em direcção ás cancelinhas, com rumo ao ponto de partida.
Estas incursões pelo interior e litoral da Ilha, dando a conhecer e tomando contacto directo com a fauna e flora local, é um direito de todos, quantos respeitam e amam a natureza, aquilo que de melhor temos para oferecer, mas também uma grande responsabilidade, já que existe o dever de preservar, respeitar
e defender este património único.
Neste contexto, estas cam
inhadas exemplarmente organizadas ao mais infinito pormenor, por uma entidade que já leva 44 anos de intensa actividade ao nível da exploração, e defesa intransigente do nosso património natural, tem sido reconhecidamente um êxito em toda a linha, não só ao nível dos cuidados logísticos e de segurança, mas sobretudo, ao nível da sensibilização, defesa e cuidados a ter com o meio que nos rodeia, não faltando os necessários esclarecimentos.
Bem haja
m!

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